segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Nós, e o tango ...

Canto I


Começa com um abraço
Um certo receio
Tensão
Desconforto incial
Certo é que intimidade não é
Uma palavra apenas


É um jogo, talvez,
Jogo esse que onde os jogadores são adversários
Não existindo porém, neste campo,
Hostilidades


Agora sim, um perfeito e profundo
Abraço
Envolvendo-os em harmonia
Um contacto que os transporta para uma
Consciência emocional


A condução dele, a recepção dela
O abraço dele, que não é só dele
E o perfume dela, mas que não é só dela…


Armas que combatem
Sem ferir
Sem magoar
Um convite apenas, para no espaço adversário
Entrar


Ele estuda o espaço,
Observa a luz, escuta o compasso e
Ouve a melodia,
De seguida.


Há regras
Mas não importa,
Já que não se fala aqui da milonga,
Fala-se de um par só, apenas.

Canto II

Descobrirás o teu nome no início do meu
Sorriso.
Estranhas o texto que os teus olhos lêem
As linhas sem ligação.
Deixa que te conduza
Na cor do que nos juntou e próprio é desse ambiente.
O teu corpo, o teu olhar, o teu sorriso
Dirigidos a mim
Transportando esse perfume que perpectua
Respiro-o, delicadamente,
Como se fosse essa
A última inspiração…


Inspiração essa que inicia com o afagar
Dos teus cabelos,
Que percorre a minha pele e
Adormece as minhas pálpebras.


Começou com um convite
Um beijo pedido
Uma rosa não entregue.


Que mau homem sou,
Um barco sem leme
Em busca dessa âncora
Que é a terra.


Viajo neste comboio, que busca a Guarda
Pela sombra das serras beirãs
Transportando-me a mim, a este texto,
E a ti.


A mim, texto, não me guardes,
Nem me deites fora.
Rasga-me e queima-me,
Porque as chamas que o papel consomem
Garantem a imortalidade da minha inexistência…


Prefiro saber que não existo,
Mas que saibas que existi…